quarta-feira, 27 de maio de 2009

Congresso democrático



Vencida a etapa dos estatutos e antes de iniciar os debates sobre as lutas prioritarias foi dada a palavra para os representantes do DEE do Rio Grande do Sul.
Em seu nome falou Geraldo Rosa, presidente do DEE e membro da Arena Jovem, partido de sustentação do regime militar. Seu olhar sinistro pode ser observado na foto e sua única intenção era melar ou tumultuar o Congresso.
Não conseguiu.
Como não conseguiu se manter ao retornar para sua terra natal, pois ali, um ano depois, ele foi defenestrado do ME, conforme nos informou assessores do deputado Adão Villaverde, que dia 26 passado realizou grandiosa e justa homenagem aos 30 Anos do Congresso de Reconstrução da UNE

Estatutos




Passado o susto, os trabalhos foram retomados e os estatutos entraram de novo na pauta.
Novos oradores e debates.
E novamente a plenária fez valer sua força, aprovando o Conselho de entidades de base do movimento, centros e diretorios academicos, como instancia deliberativa da UNE. Era a UNE PELA BASE.
Assim ficaram estabelecidas as seguintes instancias de deliberação:
Congresso Nacional;
Conselho de Entidades de Base;
Conselho de entidades livres, DCEs e UEEs e
Diretoria.
Na última foto o desejo expresso de uma parte do plenario que demonstrava que ali a maioria dos estudantes se postava a esquerda e desejava um regime politico totalmente difernte da ditadura em que viviamos

Sabotagem: Apagão



Ao iniciar os debates sobre estatutos, o Congresso viveu seu momento mais tenso e emocionante.
Eram aproximadamente 19 horas e subitamente as luzes do Congresso se apagaram, foi ouvida uma explosão e do alto começou a cair sobre a mesa e a plenária um pó que irritava os olhos.
Houve um inicio de pânico, mas era preciso estar atento e forte, não havia tempo para temer a morte.
Os congressistas que possuiam carros correram até eles e os manobraram para com seus farois iluminarem a plenaria, enquanto cinegrafistas e equipes de TV iluminavam com seus equipamentos a mesa do Congresso.
Na falta de som, Rui Cesar puxou um coro, onde suas palavras eram repetidas pelos congressitas que estavam mais proximos da mesa, de forma a que todos pudesem ouvir as orientações.
Os farois, a mesa iluminada pelos refletores e a voz forte que se fez ouvir demonstravam que não estavamos ali para brincadeira e que nada nos intimidaria.
Sabiamos que aquela era a hora e não estavamos dispostos a esperar.
Fizemos acontecer, fizemos ouvir a voz da UNE, a nossa voz.
Cantamos Vandré e repetimos em coro:
"Nós não vamos aceitar provocações. Nossa luta é organizada. vamos manter a calma".
"Povo unido jamais será vencido".
Foi preciso arrombar a casa de força, pois alguém havia desligado as luzes e trocado os cadeados das portas.
Como era de se esperar, os culpados não foram identificados, mas as supeitas apontavam para a propria policia e a segurança do Centro de Convenções.
Mas nesse caso o tiro saiu pela culatra, pois o incidente fez diminuir as divergencias e uniu ainda mais o que já era um desejo daquela vanguarda estudantil ali reunida.
RECONSTRUIR A UNE e demonstrar que nada mais calaria nossa voz.

Carta de Principios




Novas batalhas se iniciavam, tanto pela forma de encaminhar as defesas de propostas, quanto pela forma de votação.
Os oradores se sucediam e apresentavam a visão das tendencias, enquanto o plenário fazia sua parte e interferia com palavras de ordem, demonstrando quais suas preferencias.
Com isso o Congresso ia acatando a vontade da maioria, e Carta de Principios ficou assim:
1. A UNE é a entidade máxima dos estudantes brasileiros na defesa dos seus direitos e interesses.
2. A UNE é uma entidade livre e independente, subordinada unicamente ao conjunto dos estudantes.
3. A UNE deve pugnar em defesa dos direitos e interesses dos estudantes, sem qualquer distinção de raça, cor, nacionalidade, convicção política, religiosa ou social.
4. A UNE deve manter relações de solidariedade com todos os estudantes e entidades estudantis do mundo.
5. A UNE deve incentivar e preservar a cultura nacional e popular.
6. A UNE deve lutar por um ensino voltado para o interesse da maioria da população brasileira, pelo ensino público e gratuito, estendido a todos.
7. A UNE deve lutar contra toda forma de opressão e exploração, prestando irrestrita solidariedade à luta dos trabalhadores de todo o mundo.

Finalmente Debates e Votações


Resolvida a questão teatral, os congressistas retornaram ao plenário e concentraram suas atenções nos debates promovidos pelas tendencias para cada ponto de pauta.
Na foto, de Milton Guran, publicada na época pela revista Novidades Fotóptica está registrada a minha presença, pois se até agora havia me concentrado na cobertura do evento, eu também voltei minha atenção para a conclusão do Congresso.
Quem poderá me encontrar no meio dessa multidão?

domingo, 17 de maio de 2009

Teatro Frustado


A outra peça a ser apresentada não teve chance.
Apesar dos protestos do elenco do Te-Ato Oficina, tudo que restou foi o olhar desconsolado de José Celso Martinez, um dos mais revolucionários diretores, responsável por montagens emblemáticas do Teatro de Resistencia ao Regime, como o Rei da Vela.

sábado, 16 de maio de 2009

Teatro Interrompido




Conforme terminavam seu almoço, as delegações retornavam ao plenario e começavam a exigir a retomada dos trabalhos, pois muito havia para ser discutido e encaminhado.
Assim, a peça " A UNE somos nós, a UNE é nossa voz" acabou interrompida antes do final.
Mas, não pense que este recesso foi improdutivo. Durante ele muitas articulações aconteceram, e o retorno aconteceu com muitas questões conchavadas entre as diversas tendencias do movimento.
Estava para começar a fase de defesas das propostas e finalmente as votações.

Teatro




Uma vez organizado o plenario decidiu-se por um intervalo para almoço e apresentação de duas peças teatrais.
A primeira montagem organizada pelo grupo de teatro da UEE SP contava a historia da UNE e fazia criticas ao governo militar e o imperialismo norte americano.

Certo Tumulto



Esse atraso foi decorrente da confusão provocada por essa proposta de organização, que separava as tendencias e agrupava as delegações por estado, o que causou algumas resistencias.
O impasse só foi resolvido pelo surgimento de lideranças independentes e espontaneas no meio do tumulto, como a do companheiro Carlos Mello da Fiam, que com seu carisma ajudou a concluir o processo.

Pondo Ordem na Casa



A segunda providencia do dia foi organizar a plenaria por delegações. A forma encontrada pela Comissão Pró UNE de identificar os delagados com direito a voto e impedir votos de pessoas estranhas às delegações.
Evidente que tudo isso causou polêmica e atraso nos trabalhos, que só puderam ser iniciados perto do meio dia.

Quarta Feira, 30 de maio de 1979


Depois da desgastante experiencia do dia anterior, quando as discussões nos grupos se alongaram mais que o desejado, impedindo a consolidação de propostas e a formulação de relatorios conclusivos, os congressistas amanheceram dispostos a impedir conchavos de cúpula e a manipulação dos votos do plenário.
Fazendo valer a voz da maioria foi reduzida a pauta para quatro questões:
Carta de Principios, Estatutos, Lutas e Eleições.

sábado, 9 de maio de 2009

Direita vou ver

Mas o fato marcante do dia, por sua ousadia, marchando na contra mão de todo o movimento ali presente, foi a chegada em passeata do DEE - Diretorio Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul.
Entidade reconhecida pelo decreto 288 e ligada ao MEC, ou seja a unica legalizada a se apresentar no Congresso.
Acusada de direitista e provocadora pelos congressistas daquele estado, o DEE chegou acusando a Comissão Organizadora Pró UNE de tê-los preterido não permitindo sua participação.

Seu lider teria direito a falar no Congresso, no segundo dia, num momento tenebroso, quando se sentiu correr na espinha o receio da repressão.
Veio a mente Ibiuna 68, mas ali não estavam 1200 estudantes, e sim 10 mil e mais todo uma sociedade de olho no evento.

Eleições, o Grupão



O maior número de inscritos se deu no grupo de eleições, ali o bicho pegou, eleições diretas ou indiretas em Congresso ou por voto de entidades.
Eleições já, ou mais para a frente.
Diretoria por nomes ou entidades, uma éspecie de Conselhão.
Os debates eram acirrados, os defensores de cada posição davam o sangue em sua defesa, mas o tema só seria decidido em plenária no dia seguinte.
O grupo ajudou a definir as posições das tendencias nas tendencias das composições.
Ali começou a se definir o futuro do movimento e a futura diretoria da UNE.

Esse papo é grupo


Os grupos de debate até se formaram, como vemos nesta imagem que mostra também a precariedade das instalações, mas desde o começo já se percebia que não chegariamos ao fim. Só em questões de ordem e encaminhamento foi gasto um tempo precioso para o debate.
As tendencias se degladiavam, querendo fazer prevalecer seu ponto de vista. Liberdade e Luta - hoje O Trabalho no PT, Caminhando e Viração - desde lá PCdoB, Refazendo - filha da AP Ação Popular, hoje PCdo B, Centelha e Ponteio - Polop, hoje pode se dizer mãe e pai da DS no PT, Novo Rumo - na época Convergencia Socialista, hoje PSTU, e Unidade - PCB, Partidão, hoje PPS, eram as mais influentes.
Elas se envolviam em discussões interminaveis que desestimulavam os estudantes independentes, que então se dispersavam em passeios pelo mercado de Salvador, Farol da Barra, Itapoãn, Pelourinho e outros.
Voltavam e ainda dava tempo de votar. Mas com isso, acabavam prevalecendo as posições fechadas em conchavo pelas tendencias.

Atenção para o Refrão

A UNE somos nós, nossa força, nossa voz.
Deveriam ser montados seis grupos de debates, Realidade Brasileira, Universidade, Lutas Estudantis, Estatutos e Carta de Principios, Eleições da UNE e Secretarias da UNE.

Mas antes, almoçar. O rango não era dos mais saborosos. Distribuidos pelas janelas dos onibus em marmitex de aluminio mole. Os congressistas se reuniam em grupos e iniciavam as discussões enquanto almoçavam.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Iniciando o Congresso


Após a maratona de discursos e moções de apoio ao Congresso, assinadas, entre tantos outros, por politicos como Leonel Brizola, escritores e intelectuais como Jorge Amado, exilados politicos como Jean Marc, Luiz Travassos, Luis Guedes, Wladmir Palmeira, presos politicos como Altino Dantas, Aldo Arantes e Edval Nunes (Cajá), e ainda de Assembléias Legislativas, Prefeituras, Entidades, Associações e Sindicatos, finalmente os trabalhos puderam começar.
A impaciencia para entrar nas discussões praticamente impediu que os presentes prestassem atenção ao hino da UNE, cantado por seu compositor Carlos Lira, em parceria com Vinicius de Moraes.
Todos esperavam pelos encaminhamentos dos trabalhos, que foram anunciados pelo coordenador do Congresso, Rui Cesar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Terça Feira, 29 de maio de 1979



Instalar o Congresso não foi das tarefas mais fáceis. Dezenas de personalidades presentes, cartas e moções enviadas em apoio ao Congresso precisavam ser ouvidas e lidas, tal a importância dos nomes envolvidos.
Na mesa, nesta imagem vemos José Genoino - membro da última diretoria clandestina da UNE em 1971/72, Senador Marcos Freire - representando o MDB, José Serra - ex-presidente da UNE gestão 1963/64, quando o prédio da UNE foi incendiado.
Na imagem colorida temos a presença de Vinicius Caldeira Brant - ex-presidente da UNE gestão 1962/63, lider da Ação Popular no movimento estudantil, que conversa com Rui Cesar, coordenador do Congresso e futuro presidente da UNE.
Além deles, deputado Freitas Nobre do MDB, o presidente do Comite Brasileiro de Anistia-Seção Bahia, dois lideres camponeses, um deles de Conceição do Araguaia, onde aconteceu a última tentativa de resistencia armada ao regime militar, dizimada em 1974. Em pé representantes de entidades, sindicatos, deputados federais e estaduais.

E ainda,

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cidade de São Salvador

Finalmente chegamos ao destino e fomos recebidos na sede do PMDB, que ficava nessa praça que aparece nas fotos.
Ali, num clima de woodstock politico, e já dez anos atrasado, realizava-se a troca de informações sobre as aventuras de cada delegação, como superaram as barreiras e como isso lhes dava mais determinação em seus propositos.
Aguardavam uma pousada, onde poderiam descansar da viagem e se preparar para o Congresso que começava no dia seguinte.

1º de Maio 1980 A UNE e os Trabalhadores



Cumprindo com os compromissos assumidos durante o Congresso de Reconstrução, a UNE e a UEE SP marcam presença nas comemorações do 1º de maio de 1980, com suas bandeiras estendidas como num jogo de futebol no Estadio de Vila Euclides e a presença de seu presidente, Rui Cesar, no palanque apoiando a luta dos trabalhadores do ABC.
Esse ato, neste ano, teve grande significado, comemorado sem governo e sem patrões, exigia sim o fim do governo e enfrentava os patrões por melhores salarios e condições de trabalho.

1º de Maio 1980 Vila Euclides


Eles tentavam impedir mas quase todos chegavam lá, no templo do renascido movimento sindical, o Estadio de Vila Euclides.
Lideres sindicais, no caso Bittar, discursavam e pediam a presença do lider que engendrara essa vigorosa retomada da influencia do operariado nos rumos, não só dos acordos em cada categoria, como nos rumos politicos do País.

Pediam sua presença, pois Lula nesse momento estava preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional, assim como tantos outros presos politicos condenados em tribunais militares do regime militar.

Na última imagem, Dona Marisa, esposa de Lula, cabeça baixa, nos faz pensar que naquele instante ela pensava no marido numa cela, enquanto seus companheiros se arriscavam a serem enquadrados nas mesmas leis por denunciarem o arbítrio, que proibia manifestações como aquela, mas que já não tinham como impedir.

1º de Maio 1980



Essa é a homenagem do blog ao dia internacional do trabalhador, fotos do evento em 1980, o primeiro publico e unificado, com participação em massa de metalurgicos, quimicos, graficos, professores, bancarios e claro dos estudantes e da UNE, num dos primeiros atos públicos em que participava a primeira diretoria eleita após a reconstrução da entidade.
Nessas duas imagens uma amostra do que se precisava enfrentar para chegar em São Bernardo do Campo, comandos que vasculhavam veículos suspeitos por portarem panfletos, gente com cara de estudante e jornalistas, provocando congestionamentos.
Era uma ação que revelava o conflito entre uma minoria que queria se manter no poder e a maioria da população que queria acabar com sistema vigente.

Mais Bloqueios e Paradas




Entre uma leitura e outra, um debate e outro, uma cantoria e uma dormida, mais alguns bloqueios e paradas para um lanche.
E então, além da indignação pela prepotencia e repressão, a oportunidade de conhecer outras delegações e trocar impressões, apurar as tendencias para o Congresso, fazer conchavos, fechar acordos e conhecer pessoas com ideais comuns.
Mudar o regime, eleger diretamente seus representantes, conquistar a anistia e libertação dos presos politicos. Liberdade de imprensa, fim da censura, liberdade de organização e pensamento, habeas corpus, fim das leis de excessão.
Queriamos coisas que hoje podem parecer comuns, mas que na época nos eram negadas.

Manifesto de Reconstrução da UNE


O mesmo documento apresentava uma proposta de carta de principios para a entidade que se reconstruia. Exigia independencia do Mec, do Estado e de suas entidades.
Que a UNE seja instrumento de luta contra a ditadura militar e ainda a união de estudantes e trabalhadores nas lutas por liberdade e melhores condições de vida.
Esses temas provocariam enormes debates com os que defendiam a concentração das lutas nas reivindicações específicas dos estudantes.

Outras Leituras


Este documento da Libelu também foi muito lido e debatido nos coletivos, amado ou detestado, ele era ousado, direto, e exigia ABAIXO A DITADURA.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ausencias Forçadas



Em sua contracapa, o Jornal da UEE publicava matéria contundente apontando as vitimas da ditadura no movimento estudantil. Mortos, desaparecidos, exilados, presos ou condenados, todos eles pelo crime de exigir direito a livre organização e manifestação do pensamento.
Em destaque, Honestino Guimarâes, o último presidente da UNE - desaparecido; Aldo Arantes, presidente da gestão que criou a UNE Volante e o CPC - preso e torturado, e ainda José Dirceu e Luis Travassos - exilados e condenados pela Auditoria Militar de São Paulo por terem participado do Congresso da UNE em Ibiuna em 1968. O julgamento realizado duas semanas antes do Congresso de Salvador revela a farsa da dita abertura, que diziam concedida, mas na verdade era conquistada na luta de vários setores da sociedade brasileira que não mais suportavam aquele regime repressor.